terça-feira, 19 de abril de 2016

A BRUXA QUE EU AMEI


                                                        "A Bruxa que Eu Amei"
                                                                 Boris de Pedra


...
  
_ Você tem um baseado? - perguntou Sophia
_ Não - Respondeu, de pronto, Miguel.
_ A gente bem que poderia tomar um vinho, o que você acha?
_Pode ser. - Miguel foi categórico.

Eles já estavam íntimos. Apaixonados. Nem o tempo que ficaram sem se ver, mudou a intensidade da relação deles. Sophia ficou transtornada, entrou em desespero, literalmente, ela estava gostando dele, muito, havia tentado esconder, fugir, mas sentiu o clamor, se aproximaram, naturalmente, se beijaram, em uma sala escura de cinema, como dois namorados.

A chuva passou, entre as nuvens, foram surgindo raios de sol, que secava a umidade que ainda havia nas folhas das árvores. Uma paisagem bucólica para acalmar o espírito, inquieto, buscando uma nova ilusão para se agarrar, para chamar de fé e acreditar.

 Então, assim do nada, no ritmo do deixar estar para ver como fica, talvez, por medo ou sabe se lá o porque, enfim, Miguel  sumiu. Desapareceu. Não mandou mais notícias. Não escrevia mais poemas de amor. Miguel sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.

Um dia o telefone tocou, depois de um tempo, uns três meses, talvez, pode ser. Era Miguel, uma voz, do outro lado da linha, falou. Na hora, Sophia se desmanchou. A raiva, outrora sentida e alimentada em sua mente, simplesmente, se dissipou. Parecia um encantamento, essa sua mudança, repentina de humor.

Miguel comprou uma garrafa de vinho. Foram para um motel. Miguel falou que havia casado com aquela sua ex-namorada por causa do filho que ela esperava. Por outro lado, Sophia, percebeu, que a paternidade lhe fez bem, sentiu-se ainda mais apaixonada.

Eles se beijaram, Sophia se entregou aos carinhos e carícias de Miguel. Seus corpos se abraçaram, grudaram um no outro, por meio da cola da saliva, estavam pelados, suados, os seus lábios se acariciavam, um ao outro, em espasmos e gemidos, de prazer, os seus belos seios ,suas curvas, sinuosas, seu quadril,espetacular, as mãos dele passeavam pelo seu corpo, lhe arrancando fortes sensações.

No ato sublime, no altar do império dos sentidos, o ritual, a magia do sexo, o desejo, a celebração da carne, os corpos suados , abraçados, se contorcendo, em carícias, afagos, sussurros. Eles copulavam como dois animais no cio. Parecia uma cena, em VHS, de um filme pornô.

_ Me chama de puta - disse Sophia -Me come gostoso ...vai!

 Entre gemidos e sussurros, rebolando seu corpo de sereia, de odalisca, em forma de violão, envolvido pelo prazer do sexo, se entregando toda, delirando, com o orgasmo que se anunciava e a fazia, literalmente, levitar.


Sophia encarnava Inanna, a deusa da Suméria, também conhecida como Isthar, na Babilônia, de onde teria nascido Lilith, a primeira mulher de Adão, ocultada pela Biblía, mencionada pela Cabala, assim, com seu comportamento, Sophia, representava a volúpia, a luxúria, o desejo da mulher.

!!!

Sophia & Miguel são os personagens principais de Poção Mágica.


 "Poção Mágica" é uma história de amor que acontece tendo uma rede social como pano de fundo. O tempo é agora, estamos em 2015, os personagens principais, um homem e uma mulher, de 40 anos, em plena crise de meia idade, cheios de questionamentos,dúvidas, projetos de vida não realizados;  e todas as preocupações dos tempos atuais, se reencontram no Facebook, vinte anos depois, de terem sido namorados, ainda no tempo da faculdade.

Eles se chamam Sophia e Miguel, uma alusão a sabedoria humana e ao aspecto metafísico da vida. Eles vivenciaram uma paixão adolescente e se vêem surpreendidos pelo sentimento que ainda os une. No entanto,o tempo passou e cada um construiu uma vida longe um do outro. 

Sophia tornou-se psicóloga, uma mulher de personalidade, totalmente pé no chão; ao contrário de Miguel, seu par romântico, que vive, literalmente, com a cabeça nas nuvens, como se realmente um anjo fosse. Mas, como homem que era, trazia em si, algumas imperfeições. 

Ao mesmo tempo que reiniciam um relacionamento, virtual, vão reconhecendo, um no outro, aquele casal de namorados, outrora, apaixonados. Apesar de ainda existir uma forte atração, uma vontade louca de se jogar um nos braços do outro,mas havia um impedimento legal. 

Assim, Sophia, busca uma terapia de vidas passadas,para resolver seus conflitos pessoais, como o desgaste de seu casamento,de mais de dez anos. Assim como Miguel que também passava por um momento crítico em sua relação conjugal.

Aparentemente, essa história , trata-se de mais um enredo de um tragédia de amor. Assim, para tentar estabelecer um parâmetro, ter uma referência, citamos alguns clássicos da Literatura; evocando as obras de Ovídio, a sabedoria de uma lenda celta e Shakespeare. 

No diálogo que é construído pelos personagens ao longo do seu, novo, relacionamento, por meio do convívio virtual, fica evidente o caráter nostálgico, um romantismo que se perdeu no tempo, um sentimento obsoleto nos dias atuais. Existe, na busca, do amor, que um tem pelo outro, a perspectiva de uma nova espiritualidade, um caminho, que cada um segue o seu, ao seu modo,na procura do seu verdadeiro eu.

O convívio virtual, após longos vinte anos, sem notícias alguma, um do outro, despertou a amizade, a afeição e o carinho que tinham em seus corações. Logo, como sempre, nos tempos que se conheceram, em 1995, voltaram a conversar, como antes, sobre livros, filmes, músicas, arte em geral; e conhecimentos esotéricos. 
 
Essas recordações estavam vivas na memória. Marcaram impressões na alma de cada um deles. Era como se, ambos, tivessem o dom da clarividência.Pois, ao longo, do tempo que estiveram distantes, sempre estiveram conectados um ao outro.Todavia, não havia como ignorar o amor que sentiam,como se fossem almas gêmeas.

Então Sophia, ao buscar auxílio em uma terapia de vidas passadas, acaba por ter conhecimento da origem de seu amor proibido. Assim,a narrativa passa a nos contar, uma antiga história, de tempos passados, do tempo que os deuses ainda eram jovens, quando os anjos ainda não haviam se enamorado das filhas dos homens. Provavelmente , em uma outra encarnação,que tivera,que ,por sua vez,influenciaram  os acontecimentos, que desaguaram no seu amor proibido; em pleno século XXI, como o de Romeu e Julieta. 

Desta forma,descobrimos, para nosso encanto, com a devida licença poética, que Sophia teria tido duas vidas anteriores, uma na Antiguidade, em Harappa, hoje  parte da Índia, 3 mil anos antes de Cristo;onde surge o primeiro feitiço, um pedido por um benefício, ao mundo invisível,para que se realize entre nós. No entanto, ir contra a mãe natureza, tentando validar a sua vontade, desconsiderando o fluxo natural das coisas, pode gerar um carma, para ser carregado por toda uma existência. 

Devido aos transtornos, os dissabores, Sophia , assim como Miguel, reencarnam na Idade Média,como bruxos em uma sociedade feudal em uma Europa em tempos de peste. Surge , então, a figura de Myrdin, o Mago, assim como as narrativas da bruxa Minerva que faz uso de feitiços e cria uma poção mágica,a sua receita de número nove,a da ilusão do amor. A poção mágica do amor. 

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